quarta-feira, 27 de abril de 2011

Tantos Édipos

Depois da minha primeira montagem de Édipo e do sufoco que passei eu perdi o medo dos clássicos, mas acredito que eles podem ser popularizados, facilitando uma compreensão melhor do nosso público, que não é muito fã de belas, caras e clássicas montagens. Transformei então Antigona num ensaio de uma trupe circense, no espetáculo que tem três títulos ao longo de sua história, são eles, Antigona no Circo, Antígona no Sertão e Antigona, Uma Saga de Amor e Sangue. A tragédia estava ali, os personagens, mas as falhas , acidentes e incidentes durante os ensaios faziam a platéia rir sem parar, era dificil e divertido fazer alguém mais culto tragar esta minha versão, mas marcou época, e alguns grupos copiaram marcas e idéias. Ótimo!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ainda sobre café e veneno.

Aqui, Recife, durante um bom tempo, foi um impressionante polo de produção teatral do Brasil, eram montados espetáculos de sucesso no país e em outros países, muitas vezes pouco tempo após o sucesso mundial ou paralelo a este sucesso. Foi assim que tive o prazer de apaludir embevecido grandes montagens, a maioria do TAP. Mas haviam as produções de Zé Mário, Pimentel, Zé Francisco, Bartolomeu e Cadengue, entre tantos, algumas montagens corajosas e caras. Apesar de tudo, uma maioria. começou a fazer um teatro ressaltando o que tinhámos de pior, o infantil atroz e o adulto chulo, que caiu no gosto(duvidoso) do público menos exigente. Resolvi correr por fora, afinal eu jamais entraria no esquema da maioria e nem tinha condições de grandes produções. Pesquisei então o que tinha de melhor e mais recente na Europa, através de livros, revistas, filmes, jornais, documentários, e resolvi buscar uma linguagem minha, autoral, para o meu teatro. Fiquei com fama de irreverente, provocador, ousado, maluco, e outras coisitas mais. Não me preocupei, porque penso na arte como uma evolução, mesmo que ela se repita, está se reinventando. Afinal de contas onde estariamos se tivessemos continuado olhando pro fogo ou pra roda?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Um café envenenado...

O teatro é uma arte que depende do ator e um bom texto, o cinema é arte em equipe, pra ficar na frente de uma câmara, tem sempre um grupo por trás. O teatro, assim como Téspis fazia, pode ser numa carroça, numa sala, num palco ou na beira de uma piscina, com a magia da luz ou não, com o figurino ou não, basta o texto e o ator, uma direção inteligente. Fiz isso com Café Com Veneno, ao lado de Jaciara Bomfim e tendo a assistencia de Maurício Souza na direção, fizemos muitas apresentações, divertimos muita gente com nosso humor negro, aproveitamos para colocar em pauta a violencia contra mulher, Jaciara foi indicada e premiada por este espetáculo várias vezes, eu recebi indicações de melhor direção, ator, espetáculo, uma deliciosa saga. Mas ao final dela eu só fortaleci a minha idéia de fazer uma teatro com poucos ou nenhum elemento cenico, fortalecendo o ator. Hoje isso é muito feito, mas quando estava fazendo encontrei muitas opiniões contrárias, é que a nossa terrinha estava muito acostumada ao teatro retrogado e caricatural, ainda bem que havia o TAP com seu impressionante naturalismo. Que havia um Jorge de Souza disposto a ousar colocar novos rumos para o nosso teatro em evidencia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Esse tal de Édipo rei.

Tenho uma relação muito íntima com Sófocles,tudo começou quando pretendi montar Édipo e montei, tinha então vinte e trẽs anos e amava (continuo amando) os clássicos. Adaptei a peça, para um elenco de seis personagens, transformando o Corifeu no Sacerdote e dando a ele, além de suas falas, as do côro. Criei então uma tragédia intimista, pessoal. Foi o segundo trabalho que assinei e teve até uma resenha crítica do querido Enéas Alvarez elogiando, o público aplaudindo em cena aberta, mas eu não gostava. E olhando pela cortina,antes da recita, via a platéia se enchendo , gelava, e, resignado vestia a roupa para interpretar o rei Édipo, contava com a cumplicidade do elenco, fazia de forma convicente, mas não gostava. Por que? Na verdade eu não tinha pretensão de sequer participar da peça e os textos do Édipo me causavam uma identificação. Não que eu pretendesse algo com a minha mãe, mas é que tinham falas do personagens que eram ressonancias do meu pensamento, das minha dúvidas, e pro ator nada melhor que fazer um personagem distante do seu real, ele faz com bem mais prazer e eu tava alí, noite após noite, representando minha idéias, meu pensar ao público, que cruel. Claro que passou, mas eu vinguei a situação, isso explico adiante.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ta entendo nada do que eu digo II

Também tem os atores marionetes, os que não conseguem fazer nada sem uma manipulação plena, os que só rendem quando a direção os domina por completo, esses atores sempre vão deixar algo a desejar para a platéia porque eles pegam uma alma alheia e escondem a sua, porque sua atuação é milimetrada, extremamente marcada, pausada. Muitas vezes são excelentes pessoas, talentosas até, mas buscam sempre as respostas nas opiniões críticas e isso os limita, o ator não deve ser arrogante, mas sempre deve superar a crítica e mostrar que atuar é se superar em cada espetáculo. Não vou citar nomes desses atores, mas posso dizer que é na imaginação e liberdade que o ator se supera, que o verdadeiro diretor deve estabelecer uma cumplicidade ao dirigir, isso facilita em muito a montagem e faz a platéia acreditar no espetáculo, afinal de contas ela é a melhor crítica.

Ta entendo nada do que eu digo

O melhor ator de se trabalhar é aquele que,de imediato, entra em sintonia com o diretor, esta parceria pode render grandes cenas. Durante minha jornada de diretor, até o presente momento, já trabalhei com ilustres atores e atrizes assim, uns pela vivência, com uma larga experiencia, e outros pela própria intuição, e estes são os que surpreendem, os que nos dão um imenso prazer, vou citar aqui dois, outros virão depois, Simone Symon e Edmilson Costa. Simone não sei por onde anda, infelizmente abandonou o teatro e não entrou pro ramo da música, e Edmilson faz um tipo na tv no programa de Cinderela, o Vaginaldo Rossi. Simone era uma atriz rara, quando se sugeria uma cena para ela sua expansão era máxima, sempre melhor que o diretor pretendia, tanto em drama como em humor, quem  teve o prazer de vê-la sabe o que digo, trabalhou em alguns espetáculos dirigidos por mim e outros espíritas, sempre a platéia lhe aplaudia com entusiasmo e merecimento. Boa Simone, excelente Simone! Já Ed, ainda na ativa, é um ator de muitas ferramentas, transita pelo drama, humor, tragédia, com a naturalidade e o exagero dos grandes atores, pena que não é pretencioso, e muito humilde, o talento dele tambem se amplia diante da simples sugestão do diretor, lembro que uma vez, num recital, em homenagem ao grande poeta pernambucano de Jaboatão, Alberto Cunha Melo, ele não conseguia fazer determinada cena por medo de altura, eu fui lá e fiz, então ele fez, e fez bem melhor, com um talento que só a ele pertence. Edmilson é o único ator, até hoje, que me fez rir atuando de costas para platéia. Maravilha Ed!

terça-feira, 12 de abril de 2011

A respeito de Espanha e Holanda

Ainda com o mesmo tema, completando o comentário anterior, quero falar o que faço ao realizar uma montagem, ao menos os itens básicos que pretendo quando dirigo, escrevo ou sou ator. Primeiro eu detesto ver alguma coisa encenada, seja teatro,cinema,performance,não quero referencias,principalmente as recentes. Segundo, ao dirigir um texto, seja meu ou não, procuro vê-lo como eu montaria para mim mesmo,o que eu sentiria na platéia assistindo. Terceiro, criar uma cumplicidade com o ator, respeitá-lo, não descartar sua opinião para melhor faze-lo crer na minha,para melhor faze-lo se lançar na grande aventura de ser dirigido,o ator tem direito e deve participar da direção se quiser. Por último, mesmo que esteja montando um clássico eu dou espaço para improviso, principalmente na comédia, faz render grandes cenas.

Brigam Espanha e Holanda

Os direitos do mar, o direito do Homem, a liberdade de criar, de procurar se reinventar, de ter coragem de dar vestes novas ao rei, mesmo deixando ele despido. Sempre me tiveram como irreverente, ousado, abusado e abusante até, mas o meu processo para compor um texto teatral, realizar uma montagem, obedece várias regras e nenhuma da forma abominavel que tantos teatros e grupos da minha terrinha faziam e fazem. Não consigo entender o teatro infantil feito de forma debiloide com vozes empostadas e cantadas, deformadas até e cheio de atores caricatas, idem para os adultos, é decepcionante. Tenho visto grandes montagens, algumas que ficaram na memória, como é o caso de Eqqus, A Resitencia, A Morte do Caixeiro Viajante, O Balcão, Um Sábado Em Trinta, Em nome do Desejo, vi grandes diretores começarem e não seguirem o caminho, e outros ficarem na resistencia até hoje. Inveredei pelo caminho da produção audiovisual, mas ainda pretendo voltar a fazer teatro, meu ultimo trabalho foi como autor, a peça ONZE BARRA ZERO NOVE, que entreguei a direção ao competente Rômulo do Amaral, esta peça é a mais pop da minha carreira e a primeira que faço homenagem a grandes mestres do teatro como Sartre e Pirandelo. tudo com muito rock e brega. Essa é a minha cara a minha marca, vai ser sempre assim, mesmo que briguem Espanha e Holanda pelos direitos do mar eu prefiro ser gaivota.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sem lenço,sem documento.

Contestar é preciso, é preciso contestar,afinal essa direita pálida e militarista tem que ganhar o rumo vermelho da liberdade. Viva Che, Fidel, viva Stalin! Bom mesmo é pegar armas e enfrentar esses senhores fardados, estes capitalistas porcos, é da uma rasteira no sistema... Bom mesmo? Nem tanto. O mundo cresceu, o vermelho também ficou amarelo, a política corrompeu o sonho, ridicularizou os idealistas, fez dos sonhos uma farra, uma imensa farra regada a sexo, bebida, coca e churrasco. Ainda bem que eu olhava tudo com muita desconfiança, ainda bem que minha literatura, contesta o autoritarismo, seja ele do formato ou da cor que for, afinal eu não acredito em política, eu não acredito em religião, mas acreditei, por algum tempo que o mundo poderia tomar rumos melhores, só acreditei, porque, na verdade os rumos são individuais, e  sobram ruínas por cada rei deposto, seja de cor vermelha ou não a sua bandeira,o importante é o capital, não é em vão que China sobe como foguete enquanto a ilha ainda venera um charuto. O que será dos tropicos utopicos? O que será da festa Pá? Que país é esse? Onde bate o coração do mundo? Quem viver verá.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Faz parte do meu show II

Começei a fazer teatro porque precisava escrever, se não fizesse enlouquecia, sempre tive muitas histórias e personagens na cabeça e tem horas que eles precisam ser paridos. Na aula de literatura eu ficava em pé de igualdade com minha mestra, Auxiliadora, e ela sempre incentivava a criar poemas, textos, redações, até que escrevi uma peça inteira, que era muito motivada por Nelson Rodrigues, Toda uma classe, e depois uma parábola moderna em cima da samaritana da Bíblia, essas permanecem inéditas, mas só com Gigi Espoleta é que me lançei como autor. Escrevi a peça para Rita de Cassia, a Gigi era nossa, era ela em suas ações falando minhas palavras, grande e bela mulher, era o primeiro trabalho onde eu sentia que tinha muito de mim. A história de uma vedete prestes a entrar em cena, entricheirada no seu camarim porque seu show foi censurado chamou atenção em vários festivais em na sua primeira e segunda montagem. Já falei de Gigi por aqui, por isso não vou estender, só dizer que a primeira montagem tinha a ousadia de deixar a atriz improvisar em cena, monologar com um espelho que era a platéia, e fazer dos homens ao seu redor se dobrarem ao poder da vagina. Sua coragem empolgava a platéia quando censurava a censura em plena censura, foi uma delícia!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Faz parte do meu show

O teatro começou na minha vida pela literatura, começei a ler um pouco tarde, sete anos, mas a minha mãe sempre incentivou muito,sem fazer pressão, também a casa era cheia de revistas de informações e jornais, que ela ainda gosta. Cruzeiro, Fatos e Fotos, Realidade, Pai e Filhos, entre tantas. Ela me enchia de livros de historinhas e gibis, fazia tudo pra eu ler. Um dia percebi que juntava as primeiras letras num gibi preto e branco de terror, vampiros, pra ser mais exato. Vi fotos do homem na lua, do primeiro transplante de coração no mundo e no Brasil, dos protestos estundantis na França, Transamazonica... Infinidades de informações visuais que me conduziram a ler e me informar. Meu primeiro livro foi Os Irmãos Karamazov, de Dostoeviski, mas meu primeiro amor mesmo foi o Teatro Completo de Nelson Rodrigues, foi ele que me colocou neste universo, ele e os filmes que via no Ideal, com mamãe e meu irmão, quase todos os dias, e, mais tarde, as chanchadas da Atlantida na televisão. O mundo estava presente nas palavras, ação e imagens, mesmo que fosse um pequeno mundo.